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quarta-feira, 30 de março de 2011

ESPECIAL FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA - 2o CAPÍTULO - “Os 17 de Abetaia” Ataque ao Monte Castelo 12 de dezembro de 1944.

“... forças da FEB valendo-se da cortina protetora da noite, partiram. Os mais atrevidos avançam sempre até se perderem ou tombarem. Diante de um resultado pouco compensador veio a ordem de retirada. Reservas em posição e bases de fogo em ação intensa, acolheram os retirantes com farto número de prisioneiros e preciosas informações sobre o inimigo.”
Soldado Brasileiro morto na tomada de Monte castelo
“Com os primeiros albores da primavera, num certo dia de fevereiro surgem enfim a oportunidade da revanche. Aos 21 de fevereiro de 1945, o Regimento Sampaio esmagou a final, uma por uma, as famosas casamatas do Monte Castelo. Após a conquista, saem em campo o Reverendo Soren com seus voluntários, em piedosa missão: recolher e dar sepultamento aos cadáveres. Transferindo sua pesquisa para os lados de C. Viteline e Cá de Cá e diante do fatídico corredor que flanqueava o Castelo, aos olhos se depara um quadro de surpreendente e tétrica Alegoria das Armas: em torno à casamata reduto de Abetaia, em formação semicircular, a uma vintena de metros das seteiras, jaziam dezessete cadáveres de brasileiros, hirsutos, agressivos, colhidos por traiçoeira ceifa da morte, no momento mesmo em que o assalto final coroaria cumprimento de sua difícil missão sobre Abetaia. Soren examinou os cadáveres; muitos ainda comprimiam ainda o gatilho que disparara o último tiro e outros tinha nas mãos cerradas, a granada já sem o grampo de segurança, que não chegará a partir e que só a rigidez cadavérica, impedia de explodir. E, à frente de todos, personificação de verdadeiro chefe, e graduado que lhes comandava o último lance: o 3º Sgt Luiz Rodrigues Filho. Estavam ali os 17 “desaparecidos” em ação no ataque de 12 de dezembro de 1944 semi-conservados ainda, pelo manto protetor das nevadas” – em degel.
“Honra e Glória Eterna aos 17 de Abetaia”
NOME
IDENTIDADE
UNIDADE
BTL / CIA
NATURALIDADE
UF
Luiz Rodrigues Filho
1G - 213.659
1º RI
2º - 4ª
Engenho Novo
DF
Ari de Azevedo
1G - 272.013
1º RI
2º - 6ª
Engenho Novo
DF
Cristino Clemente da Silva
1G - 298.646
1º RI
2º - 6ª
Tijucas
SC
Durvalino do Espirito Santo
1G - 227.887
1º RI
3º - 7ª
São Fidélis
RJ
José de Araújo
1G - 227.183
1º RI
2º - 4ª
S. Ant. de Padua
RJ
Alcides Maia Rosa
1G - 292.411
11º RI
1º - 2ª
Dores de Campos
MG
Aleixo Herculano Maba
2G - 126.414
11º RI
1º - 1ª
Itajai
SC
Almiro Bernardo
2G - 126.033
11º RI
1º - 2ª
Botucatu
SP
Amaro Ribeiro Dias
1G - 193.775
11º RI
1º - 2ª
Campos
RJ
Amelio da Luz
5G - 34.868
11º RI
1º - 2ª
Cerro Azul
PR
Antonio Coelho da Silveira
4G - 115.773
11º RI
1º - 2ª
S. João del-Rei
MG
Lindo Sardagna
2G - 126.959
11º RI
1º - 1ª
Ibirama
SC
Hereny da Costa
1G - 291.908
11º RI
1º - 2ª
Belo Horizonte
MG
Iraci Luchina
2G - 127.124
11º RI
1º - 1ª
Araranguá
SC
Marino Felix
2G - 126.422
11º RI
1º - 1ª
Itatinga
SP
Rafael Pereira
2G - 126.423
11º RI
1º - 1ª
Mirandópolis
SP
Sebastião Clementino Machado
2G - 126.252
11º RI
1º - 1ª
Rio Preto
SP

Página épica escrita pelo Cel Nelson Rodrigues de Carvalho
Veterano do Regimento Sampaio, autor do livro
"Do Terço Velho ao Sampaio de Guerra"

Soldados brasileiros mortos em Monte Castelo

terça-feira, 22 de março de 2011

ESPECIAL "FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA - 1º CAPÍTULO

Hoje começo a postar um especial sobre a Força Expedicionária Brasileira, força esta que combateu na Itália em 1944/1945, durante a Segunda Guerra Mundial e que é motivo de orgulho para todos nós brasileiros.
Toda terça feira vou falar sobre as histórias, curiosidades e dos personagens que viveram momentos de inferno nas trincheiras italianas debaixo de um inverno rigoroso e um inimigo com mais de 5 anos de experiência em combate.

Por: Rafael Adriano Silva
Barbacena/MG


Carta ao "José"
Cemitério Brasileiro em Pistóia

Belo Horizonte, 30 de junho de 1958.

Carta para o Cemitério Brasileiro de Pistóia
Quadra: ?
Sepultura: ?
Saudoso amigo José
- Lembrei-me, hoje, muito de você. Quedei-me um pouco de minhas tarefas e pus-me a pensar...
Retrocedi no tempo, há mais de 13 anos, quando juntos combatíamos o domínio alemão nessas terras, onde você repousa, para a eternidade. Neste passe mágico, que somente a lembrança nos conduz, vi-me ao seu lado: Inicialmente no Morro do Capistrano, na Vila Militar, em exercícios... (pesados exercícios). “Pegando o Rancho”, desfilando no dia da Parada da Despedida...(que emoção!!!) Nosso adeus era em silêncio e com o olhar a tudo que, para nós, representava Brasil. Eu sentia que você tinha vontade de gritar a todos, que a todos amava e que por todos entregaria sua vida, afim de que, no Brasil, tudo continuasse com a mesma Liberdade e o mesmo espírito bonachão de nossa gente, esta raça Tupiniquim, livre como os pássaros e expansiva como os próprios ventos. Embarcamos.

Você tinha lágrimas nos olhos. Quis falar-me a respeito de sua mãe, de seus irmãos, porém, julgou-os muito bem, que não tínhamos mais o direito de claudicar: A honra do Brasil acima de tudo!

Aí, na Itália, a falta de conforto era a nossa melhor companheira. Passavam-se as horas e mais se aproximava o momento de nosso Batismo de Fogo, lá um belo dia, (seria mesmo um belo dia?) fomos informados pelo comando, de nosso deslocamento para a Zona de Riola. Os “peixes podres” se sucediam. Lembro-me, muito bem, de quando tivemos a notícia da morte do Francisco. Alias, sua família, até hoje, anda sempre em dificuldades. Perdeu um filho tuberculoso, pois sua esposa, não tendo recursos e solicitando a proteção do governo, ficou na expectativa, esperando... esperando, até que, não resistindo, a criança morreu
.
Bem, voltemos às minhas lembranças.

Na Zona de Riola, chegamos à noite, carregando, Deus sabe como, um amontoado de coisas, num peso irresistível. Não sei como você agüentava galgar tanto morro com aquela mochila. Depois de um dia, que talvez nem o diabo tivesse vontade de andar. Entrando também pela noite, tomamos as posições no “front”. Tudo era silêncio. Todos tinham vontade de melhor elevar o nome do Brasil. Passamos a noite com o dedo no gatilho, na expectativa de um contra-ataque do “tedesco” que ao final, já aspirávamos , para por um ponto aquela angustia interminável. Durante a noite, a Lurdinha “rasgou pano” como nunca, em nosso setor esquerdo, forçando o recuo de nossos valorosos companheiros que, cumprindo missão saíram em patrulha. Os canhões, em voz tonitruante, atiravam por sobre nossas cabeças, suas balas, num cochicho impressionante e mostravam, perfeitamente, a dura missão a que estávamos empenhados.

Raiára o dia. Você, eu, bem como os demais, nos interrogávamos: Encontrávamo-nos mesmo naquele inferno ou seria aquilo um pesadelo?

Talvez você ignore, ou melhor penso que não, pois, trata-se de um de seus companheiros de sacrifício, de um dos “17 de Abetaia”. Falo a respeito doEreny da Costa...o Ereny, aquele soldado muito disciplinado. Tombou varado por uma rajada inimiga. Foi encontrado coberto de neve, junto de vocês e de dedo em riste. Morreu como um gigante!

Outro nosso grande amigo, Frei Orlando, foi morto quando regressava de uma missa que fora celebrar em nossas posições. Se contássemos aos nossos conterrâneos que ouvíamos Missa no “Front”, haveriam de nos julgarem folgados; não é um fato? Deixemos que assim o sintam, porém, nós sabemos, perfeitamente, como arranjávamos os altares nos “bucos”.

Ao seu lado você tem inúmeros e heróicos amigos que, representando o Estado do Brasil, ilustram de maneira, mais que brilhante, a contribuição de nosso País à defesa da dignidade humana. Deixe-me recorda-los:

Manoel Chagas (Amazonas) - Miguel Souza Filho (Acre) - Maurício de Araújo Martins (Pará) - Manoel Eduardo de Souza (Piauí) - Clóvis da Cunha Páis (Ceará) - Manoel Lima de Paiva (Rio Grande do Norte) - Adalberto Candido de Melo (Paraíba) - Joaquim Xavier da Lira (Pernambuco) -Eduardo Gomes dos Santos (Alagoas) - Lino Pinto dos Santos (Sergipe) - Humberto Alves Nogueira (Bahia) - Pedro Mariano de Souza (Espírito Santo) - Marcelino Lourenço (Estado do Rio) - Gildo dos Santos Pereira (Distrito Federal) - Francisco de Almeida (Estado de Minas) - Sebastião Garcia (Paraná) - Ramís Mendes (São Paulo) - Lourenço Filho (Santa Catarina) - Vital Fontoura (Rio Grande do Sul) - Abel Antônio Mendanha(Goiás) e Laurentino da Silva Nonato (Mato Grosso). Cada um tem uma história digna de nosso orgulho.

Talvez você esteja interrogando-me a respeito do Cruz, aquele motorista. Pois, saiba: O Cruz foi ferido por explosão de um 105 e continua vivo... Para os que sentem, como nós, as cousas da guerra, ele está com, apenas, cicatrizes que o tornam mais belo. Porém, para os civis ele deve ser um mostro. Tenho certeza, você se o tocasse, orgulhar-se-ia em senti-lo sem braços, sem um olho, sem queixo, com algumas pregas na pele do peito, e melhor ainda, com um moral elevadíssimo. Os que não tomaram parte na guerra, nunca poderiam... bem, não façamos cogitações.

Há tempos, encontrei-me com a esposa do Carlos, o Sargento Carlos, nosso grande parceiro de prosa. Quando ele faleceu ai no “front”, deixou 5 filhos. Sua esposa tele inúmeras dificuldades em educá-los, (hoje esbeltos rapazes). Acontece, entretanto, que, tristonhos, julgam infrutífera a morte do pai na guerra. Eu conheço o drama em que vivem. Você compreende... as escolas não mencionam nenhum fato da guerra, não incutem no espírito da juventude aquele amor as tradições, não apresentam como exemplos de Brasilidade os que combateram, enfim, tornam desconhecidas das crianças, as vidas sacrificadas em prol da pátria e da liberdade.

Por incrível que pareça, outro dia, perguntei a um jovem de 17 anos se ele já ouvirá comentários a respeito da participação do Brasil na guerra e, como resposta, obtive uma negativa e um sorriso. E... que sorriso inconseqüente!

Tivemos inúmeras Vitórias e fizemos um grande número de prisioneiros. Milhares!!! Mas, como ninguém é profeta em sua terra, há quem diga, que os alemães já se encontravam ansiosos por se tornarem prisioneiros, sendo este o motivo de sua capitulação em massa. Não sei, José, como podem pensar em tamanha calamidade. Você sabe que, para se chegar ao final a que chegamos, defendendo a integridade e colhendo glórias para o Brasil, muito sangue se derramou, muitos lares foram desfeitos e incontáveis atos de heroísmo foram praticados.
Em julho de 1945 regressamos ao Brasil. Vocês ficaram em Pistóia, outros foram para os hospitais, EE.UU. e muitos trouxeram para a Pátria uma alma amargurada, abrigada em um corpo não menos contundido pelas peripécias da guerra. Ao chegarmos ao Rio, houve uma recepção apoteótica, bastante emocionante. Uns não encontraram seus pais, outros não puderam rever irmãos, esposas e filhos. Era um quadro misto de dor e alegria, onde se fundiam lágrimas e risos.

Entre nossos patrícios corria a notícia de que regressávamos ricos. José, você já viu alguém ter uma importância de Cr$27.000,00 (total de nosso terço de campanha), economizada durante meses, se considerar rico? Com este cartaz de riqueza fomos assaltados em plena Rua Larga, aqui no Rio, onde os comerciantes menos escrupulosos vendiam aos menos experientes, por preços exorbitantes, objetos de que não tínhamos necessidade. Em São João del-Rei, foram vendidos relógios e outras quinquilharias aos expedicionários, por três vezes a mais, o preço normal. Nós respeitamos nossos vencidos e fomos saqueados em nossa própria terra.

Houve a dispensa geral dos participantes da guerra, sem vistoria médica e regressamos aos nossos lares, onde, para a maioria, estava reservado o fel mais amargo da vida. Muitas histórias tristes poderia eu lhe contar sobre o desenrolar de fatos, afeitos aos nossos colegas e familiares. Desajustamentos, incompreensão, ilusão e desilusão, perda de controle mental e intolerância, foram peças que se ajustaram, perfeitamente, para levar a loucura, suicídio e excessos alcoólicos, nossos incompreendidos companheiros.

Caríssimo amigo, você esta cansado de ouvir-me, ou melhor, de ler este meu desabafo? Aprume seus ossos, pois, vou mais além. Um momento José, deixe-me tirar uma baforada no meu cigarro... (quase me queimei o bigode!).

Continuemos.

Não me esqueço das nossas reuniões em PisaGranaleonePorretaSila e Bombiana, quando cantávamos Lili MarleneBarril de Chopp e aquelas músicas, tocadas na vitrola, do Jorge Veiga (Quero uma mulher que saiba lavar e cozinhar); Carlos Galhardo (Rosas de Maio, doce poema);Francisco Alves (Brasil, terra boa e gostosa...) e, quase posso ouvir o Orestes Abraão cantando “Hoje Estou abandonado, por aquela mulher, que foi minha perdição...” Quanta saudade!

Mudando de assunto, você se lembra do Prefeito de Belo Horizonte, em 1942, o Dr. Juscelino Kubistcheck? Saiba você, ele hoje é o Presidente da República, depois de uma campanha política, aliás, bastante vitoriosa, com um intermezzo dramático, tomou posse democraticamente, do governo. É um ótimo Presidente. Dinâmico, realizador e tem dado bastante atenção às petições dos Expedicionários.

O Sr. Presidente da República colocou no Ministério da Guerra um enérgico General. Trata-se do General Henrique Duffls Batista Teixeira Lott. Você se lembra deste homem? No nosso tempo, na Vila Militar ele era tido como um militar de excepcionais qualidades, reto e justo. Seu posto naquela época era de Major. Este General, hoje, é um grande amigo nosso e tudo faz para que dentro de seu Ministério o ex-combatente tenha assistência condigna. Temos inúmeros amigos bons. Poderia lhe citar outro oficial, que pela dedicação a nossa causa não poderia ficar ausente nesta minha carta. É o General Lima Câmara.

Após nosso regresso,. Fundamos a Associação dos Ex-Combatentes do Brasil. Esta Associação congrega todos os ex-participantes do corpo expedicionário, as três armas, com a finalidade de não deixar desaparecer a lembrança de vocês e a grande fraternidade que nos uniu no campo da luta.

Sempre nos encontramos e nos abraçamos. São os nossos melhores momentos, os momentos de nossos contactos. Não existe, entre nós, diferença de graduação ou posto. Somos uma só alma. Somos apolíticos, porém, sempre assediados por políticos oportunistas que se valem das necessidades naturais e prementes de muitos dos nossos colegas, afim de usufruírem votos, sob promessas de uma ajuda que nunca se concretiza.

O governo sancionou diversas leis em nosso benefício e muitas não são cumpridas, aliás, as mais eficientes. Os jornais sempre as publicam, porém, nunca se puseram em campo para verificar se as mesmas são postas em prática. Para lhe dizer a verdade, hoje somos pessoas, socialmente, incômodas. Não usufruímos de nenhuma simpatia. Há razão para isto e eu lhe explico: Somos muitos e quase todos com uma situação a regularizar. Os que se encontra em situação privilegiada não se incomodam com os mais necessitados. Poderiam prestar um pouco de colaboração! O governo vota as leis e estas não são executadas. Há clamor por parte dos pseudo beneficiados. O povo comenta que não temos razão, porquanto as leis foram sancionadas, etc. e assim caímos num círculo vicioso e deste ao círculo antipático. É o premio José. A guerra já terminou, há treze anos e esqueceram-nos rapidamente.

Muitos feridos de guerra foram reformados. De acordo com as lei, parte destes recebeu uma casa doada pelo governo. Aqueles que foram atingidos pela reforma, tiveram a situação normalizada. Porém, há uma maioria, a dos deslocados, inadaptados, inadaptáveis por conseqüência da própria guerra, que sofrem amargamente.

Pelo visto, já o sinto mais feliz que nós outros, meu caro José. Você talvez, nunca receberá uma folha informativa tão longa quanto está. Poderei continuar ou estou lhe sendo incômodo?
Um momento, José, bateram-me a porta e irei verificar...

Aqui estou, novamente, com uma grande novidade para você e veio na hora!

O Brasil venceu a Copa Jules Rimet, o maior prêmio mundial em disputa de futebol. Somos os Campeões Mundiais. Temos um time maravilhoso. Para lhe dizer a verdade, nunca tivemos uma equipe tão esmagadora quanto esta. Meninos novos, ótimos profissionais, demonstraram no exterior o valor esportivo do Brasil. O Campeonato foi realizado na Suécia. Nossos representantes passaram pela Itália e estiveram ai pertinho de vocês. Na certa lhes fizeram uma visita, pois são briosos e não poderiam deixar de velar, pessoalmente, a vocês, um pouco de nossa saudade e reconhecimento.

Mas, como ia lhe dizendo, o jogo final (Brasil x Suécia) foi de 5x2 favorável ao Brasil. Houve carnaval com a Vitória. Os jornais estampam manchetes calorosas. Eu sou admirador do time. Sinto não levar, pessoalmente a todos eles meu abraço e felicita-los. A imprensa publica fotografias, as mais empolgantes. São fotos emocionantes de gols fantásticos. A torcida e Imprensa Européia ovacionaram nossos homens delirantemente. Estão programando a chegada dos craques com uma recepção estrondosa. O time todo vai ser agraciado pelo governo com medalhas de ouro, vai ganhar inúmeros prêmios, não se falando da importância de Cr$260.000,00, televisão, imóveis, etc e etc.

Faz-me lembrar nossa chegada ao Brasil, pelo contraste. Não fomos à Europa esportivamente. Fomos cumprir um dever de honra: “Viver ou Morrer”. Não fomos caro José, sob remuneração e tampouco, sob condições de tratamento especiais. Fomos para morrer. Não tivemos coberturas jornalísticas. Não tivemos irradiações nas batalhas e uma legião de fotógrafos atrás de nossos pelotões, na linha de frente, registrando a morte e o heroísmo de A ou B. Não impuseram nenhum “Sine Quarnon”. Embarcamos, morremos, regressamos e ... bem, acima já comentei.

À chegada, fomos explorados ao embarque, entramos em nossos lares pulverizados pelas necessidades, recebemos os abraços daqueles que mais nos ansiavam e depois, caímos no ostracismo. Dizendo mais, há famílias que não receberam nem as medalhas de bronze, (sim, de bronze), pela perda de seus diletos filhos. Àqueles que trocaram a vida pela honra da Pátria, foram dados, como prêmio, o esquecimento, o tripúdio e a miséria.

José, você se sentirá muito feliz em sua condição de morto, ao ter conhecimento destes fatos. Muitos de nossos companheiros têm sido encontrados mortos na via pública, foram presos em distritos policiais ou enxotados pela aparência pouco recomendável.

Conceda-me uns minutos, somente. Esqueci-me de que sou humano e há bastante tempo estou conversando consigo... Espere-me!

Cá estou, meu irmão, prossigamos.

Você conheceu o Xisto Nogueira? Não se lembra? O “Juriti”. Agora você se lembrou...

Pois bem, o Juriti gostava de, vez ou outra, de uma “grupa” e naquele estado de, nem bem nem mal, dizia ao sargento: “Pra riba de mim não sargente!” Com tudo isso, foi um ótimo soldado, cumpridor de seus deveres de combate. Com “Pé de Trincheira” foi evacuado para o Brasil, com uma situação indefinida que só foi regularizada após 12 anos. Vivia às expensas da Associação. Morreu na via pública. Recolhido ao necrotério, como indigente, teve, da Associação, toda a assistência, incluindo roupa mortuária e enterro. Sua esposa, D. Judith, com três filhos menores, pleiteou uma colocação de servente num estabelecimento público do Estado de Minas Gerais e, nomeada diversas vezes, viu-se impossibilitada de tomar posse, por interceptação de afilhados políticos, somente o fazendo após 2 anos e mesmo assim, por ocorrência constrangedora para nós, no Palácio do Governo.

Este fato vem, em paralelo, demonstrar o que acontece atualmente aos homens que trouxeram o troféu Jules Rimet.

Caríssimo amigo, não sou contra as concessões feitas a esses homens do time nacional. Em absoluto! Acho que são figuras merecedoras de nossos aplausos, esportivamente falando. São cidadãos com uma situação financeira perfeitamente definida, profissionalmente, com um futuro mais que garantido a si e a seus familiares. Entretanto àqueles que imolaram suas vidas. Afim de que, dentro de um clima de liberdade, toda a livre iniciativa, inclusive o esporte pudessem florecer, como vem acontecendo, àqueles que inaptos por ferimentos de guerra ou por psicoses, provenientes dos próprios impactos do combate, a consciência brasileira legou ao esquecimento.

Enquanto que, aos esportistas são concedidos o máximo de donativos luxuosos, residências, educação de filhos a ser votada pelo Senado, indumentárias, transporte próprio e medalhas de ouro (condecoração imediata), o ex-combatente e família se vê obrigado a esmolar o direito adquirido por leis, a entrar em filas de modestas casas da Fundação da Casa Popular, estando estas ainda na dependência das necessidades, números de filhos e possibilidades financeiras.

Porque, caríssimo herói, não encontramos patrocinadores à nossa causa? Contam-se nos dedos de uma só mão, unidades da imprensa que pugnam em nosso favor. Todos são unânimes em dizer que temos direito, somos merecedores, etc. Estamos aguardando que a vos da razão, impressa energicamente em uma folha de papel, grite e mostre à mentalidade brasileira, as disparidades ora cometidas. A sua morte e a dos demais exigem outro tratamento. O sangue que vocês derramaram não se coagule, enquanto não se lhes derem a tranqüilidade do cumprimento das promessas.

Não queremos luxo. Necessitamos, sim, de uma compreensão sincera aos nossos problemas mais simples, mais naturais e mais dignos. Temos herdeiros de heróis, seiva do futuro, fundo moral de nossa Pátria. Que o Brasil saiba valoriza-los.

A todo o momento lemos e ouvimos, com profunda amargura, tópico como estes: “Estes homens (22 craques) fizeram para o Brasil mais que as embaixadas ou comitivas - Abriram ao Brasil as portas da fortuna - Tornaram o Brasil conhecido e respeitado - Agora o mundo conhecerá que a capital do Brasil é Rio de Janeiro” - etc.

Ora José, será que, ao demonstrarmos nosso espírito democrático, juntando nosso sangue ao dos demais povos, somando nossas perdas de homens, as baixas sofridas pelos aliados, desamarrando as peias que tolhiam o povo sincero da Itália e demais povos oprimidos, levando de vencida o inimigo atarracado às posições mais difíceis no campo de luta, será que, com tudo isso, não conseguimos fazer este País respeitado?
O prestígio de um país não se decide em canchas esportistas e sim em maratonas cívico-espirituais, onde a grandeza do caráter seja moldado nos candinhos do brio, da instrução, do amor à Pátria e mútuos sentimentos.

Desculpe-me José, entristeci-o? Quem sabe, fiz mal em lhe tirar a tranqüilidade, nesta santa mansão? Deixe-me terminar...

Pois bem, antes que se esbanjem gentilezas, poderia nosso povo lembrar-se de inúmeras famílias, descendentes de heróis, ainda sem nenhum amparo, público ou particular.
Se, na balança do conceito, entre Sangue de Expedicionário derramado na luta e Troféu Jules Rimet, for mais meritório e engrandecedor este, pezadíssimo amigo e irmão, não me faça espera-lo. Leve-me às suas companhias, pois, acredito, nada mais possa me interessar, nada mais me fará digno de mim mesmo e nada mais salvará da falência, o Amor Patriótico, que dedico a este querido Brasil.

Obrigado amigo, obrigado por ter paciência. Você me compreendeu, você é um expedicionário. Queira agora descansar. Que Deus lhe dê o repouso eterno e o recompense, regiamente, das agrúrias por que passou nesta vida. Seu irmão de guerra,
Dr. Otton Arruda Lopes....3° Sgt da 6ª Cia do 11° RI...

FONTE:
Acervo Roberto R. Graciani


Cemitério Brasileiro Militar na cidade de Pistóia - Itália

segunda-feira, 21 de março de 2011

A Verdade Sobre a TV Brasileira


Por: Rafael Adriano Silva
Barbacena/MG

Outro dia estava navengando pela internet e vi uma notícia em que os patrocinadores do Campeonato Brasileiro de Futebol não aceitariam o resultado da licitação feita pelo Clube dos 13 em que a vencedora foi a Rede TV simplismente alegando que a emissora não teria a mesma visibilidade que tem a toda poderosa Rede Globo. Não sei se esta informação é verídica, pois a fonte não era muito confiável e não me interessei mais pelo assunto a ponto de pesquisar seriamente.
O fato é que a Rede Globo já está tão acostumada com o poder que, claro, não quer largar o osso. O racha provocado no Clube dos 13 foi comandado pela “duplinha globista” chamada Flamengo e Corinthians, ou como costumo dizer: “Inflação e Salário Mínimo”, times pequenos que se tornaram grandes as custas da propaganda de massa feita pela Rede Globo.
A verdade é que vivemos em um país onde a qualidade se vende caro, e muito caro. Todos os dias somos obrigados a engolir programas feitos para um tipo de público, uma regão em especial (RJ/SP), como as novelas, e não falo só da Globo, mas também a Rede Record que, apesar de ser uma emissora que está crescendo e tem uma programação melhor que a Globo, ainda quer se espelhar na emissora concorrente para tentar faturar seu público alvo, as donas de casa que se contentam com novelas e BBB e canais religiosos (evangélicos e católicos) que só despertam o fanatismo e se beneficiam financeiramente com a crença dos fiéis.
Conversar sobre TV em nosso país parece uma piada. O que vamos falar, nós, pobre clásse média baixa que muitas vezes não temos dinheiro para comprar um carro semi-novo que dirá pagar R$ 100,00 para termos em casa uma TV a Cabo com canais realmente bons e que tragam conteúdo.
Costumo acessar, via internet, o canal italiano Rai. Diferentemente da Globo, o site da Rai é cheio de variedades, com vários canais de TV e Rádio diferentes, trazendo opção ao telespectador. Uma pena é que a TV não é mostrada via internet ao vivo para outros continentes, somente para a Europa, mas a existem 10 canais de rádio para o mundo inteiro e é claro a diferença de qualidade. Tem para todos os gostos.
Sou da década de 1980/90 e sempre tive a Globo como referência de bons filmes e a Record como referência de bons seriados (lembro-me muito do Arquivo X e Zorro). O SBT só serviu para passar Chaves, que foi e é um grande icone da minha infância. Lembro-me de passar a semana ancioso a espera da Tela Quente para assistir “Caça Fantasmas, Rambo, Indiana Jones, Programado para Matar” e muito outros. Filmes que marcaram minha infãncia e fico pensando: minha geração é tão diferente das gerações pós anos 80/90.
Na minha época não existia Zorra Total, Rebelde, BBB, A Fazenda, KLB, Restart e muitas outras porcarias comerciais. Cresci ouvindo Engenheiros do Hawaii e Michael Jacksone hoje quando saio pelas ruas ouço somente Funk carioca e Ivete Sangalo e etc. É triste mas é a pura verdade.
A televisão caiu de qualidade nos anos 2000. Isto é fato e parece irreversível. Lembro-me das minisséries da Globo, como Memorial de Maria Moura, Anos Dourados, Chiquinha Gonzaga, O Tempo e o Vento, eram fantásticos. Hoje nem sei o que se passa nesta emissora em matéria de minissérie.
Na minha umilde opinião, a única que ainda mantém uma programação interessante, tirando seu setor esportivo (por dar somente espaço ao eixo do mal – RJ/SP) é a Rede Bandeirantes que distribui uma programação baseada no jornalismo, competindo com a Record, por que o jornalismo da Globo já se foi a muito tempo.
Enfim, opiniões são diferentes e certamente válidas, porém temos que analizar muito bem o que vamos ver na TV e o que vamos deixar os nossos filhos verem. Pois, sendo grande formadora de opinião, a televisão deve rever seus conceitos e primar pela qualidade e não pela quantidade, privando grande parte da população brasileira de um conteúdo verdadeiramente informativo, educativo e lazer saudável. Por isso digo, nada como o bom e velho DVD, pois nele eu escolho o que quero e não o que manda a mídia.
Uma dica é “Muito Além do Cidadão Kane”, documentário de Simon Hartog produzido em 1993 pelo canal 4 da BBC. O documentário discute o poder da rede Globo e teve sua exibição proibida no Brasil.

domingo, 20 de março de 2011

Via Twitter, Kalliu anuncia novo reforço para o Galo



Por: Rafael Adriano Silva
Barbacena/MG

Que a torcida atleticana já está impaciente com os ultimos resultados do Galo não é novidade. Hoje, a equipe conseguiu, no sufoco, aos 47 mim do segundo tempo virar o jogo contra o Vila Nova de Nova Lima e assumir a vice liderança do Campeonato Mineiro com 16 pontos, 3 a menos do que o time gay de Minas Gerais que tem 19 e um jogo a mais.
O jogo não foi bonito de se ver, o Galo não jogou nada no primeiro tempo e foi na raça e ousadia que conseguiu a vitória.
Mas a boa notícia veio no início do segundo tempo, quando, via Twitter, o Presidente atleticano Alexandre Kalliu anunciou a contratação do atacante Guilherme que pertencia ao Dínamo de Kiev, da Ucrânia, e chegou a ser emprestado ao CSKA, da Rússia. O jogador assinará contrato por quatro anos com o time mineiro.
No Cruzeiro, Guilherme, de 22 anos, foi o grande craque da conquista da Copa São Paulo de Futebol Júnior de 2007 e se destacava principalmente nos clássicos contra o Galo. A partir de agora, no entanto, terá a oportunidade de mostrar que é ótimo jogador no Atlético-MG.
Resta saber se Guilherme, mesmo já tendo defendido as cores do maior rival, honrará a gloriosa camisa do Galo das alterosas e quem sabe ser um grande ídolo a ser lembrado nas gerações futuras.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Livro: Enterrem Meu Coração na Curva do Rio

Por: Rafael Adriano Silva
Barbacena/MG 

"Fizeram-nos muitas promessas, mais do que me posso lembrar, mas eles nunca as cumpriram, menos uma: prometeram tomar nossa terra e a tomaram." - Nuvem Vermelha, dos Sioux Oglala Teton.

A obra-prima do historiador norte-americano Dee Brown, resultado de uma profunda pesquisa a respeito das consequências sangrentas da colonização dos Estados Unidos pelo homem branco. Publicado em 1970, mudou radicalmente a maneira de se pensar a conquista do Velho Oeste, desmistificando a visão hoolywoodiana dos bondosos e heróicos mocinhos brancos, contra os ardilosos vilões de pele vermelha. Sua importância no que tange à demolição da história contada pela ótica do conquistador, é tamanha, que esta obra já foi traduzida para dezessete línguas e vendeu quatro milhões de cópias, tornando-se o livro mais importante a respeito do assunto, e o relato mais fidedigno sobre o genocídio praticado contra os povos nativos norte-americanos. 
O livro nos tira do campo das idéias pré-moldadas pela indústria da propaganda e da ilusão, e joga em nossa cara a realidade crua da perversa alma do ser humano dito “civilizado”, nele são os renegados “selvagens” que tentaram a todo custo, conviver pacificamente com o inescrupuloso invasor e a ganância de um império em formação, que por ter superioridade tecnológica bélica, não se furta a ceifar quantas vidas forem necessária em prol do suprimento de suas necessidades fúteis. É triste e trágico, mas é real, sem firulas e sem “panos quentes”. 
Versando sobre um tema extremamente complexo, o autor impressiona por usar uma linguagem de fácil entendimento, o que prende a atenção do leitor até a página final. Os capítulos são estruturados a partir das grandes batalhas, que são expostas com tanto realismo que fica impossível para o leitor não esboçar sua repulsa com a forma com que os homens brancos agem, e sua indignação por evidentemente ter feito parte disto, mesmo que indiretamente. 
É impossível não encarar este livro como uma latente crítica à forma de política imperialista, egoísta e agressiva utilizada pelos Estados Unidos há décadas e gera protestos mundiais. O ocaso das milhares de nações indígenas tanto da América do Norte, quanto do restante do continente, nos faz encarar o holocausto dos judeus, e tantos outros genocídios tão propagados pela história contemporânea, como “pequenos incidentes”, que ganharam grandes proporções de divulgação, tão somente por se tratar de atos cometidos contra “brancos”. 
Repleto de passagens tocantes e marcantes, Enterrem Meu Coração na Curva do Rio é um dos mais perfeitos casamentos entre literatura e pesquisa histórica que já foi produzido. Há de se destacar o trecho em que o líder da nação Sioux, Nuvem Vermelha (quem proferiu a frase de introdução a este ensaio), é conduzido a capital federal, Washington, para uma conversa com o então presidente da república, Ulysses S. Grant, a quem chama de “Grande Pai Branco”, neste trecho, o autor consegue demosntrar de forma magistral o choque de culturas enfrentado pelo líder indígena, ao vislumbrar pela primeira vez a grandiosidade das contruções da “enorme aldeia” do homem branco e seus costumes estranhos. 
Outro trecho marcante versa sobre as condições de vida dentro das reservas criadas para acondicionar os nativos, locais sem saneamento, onde proliferavam doenças de todas as espécies, sem terras cultiváveis, o que os deixava na dependência da escassa comida fornecida pelo homem-branco, não sendo raro a morte de diversos índios por inanição. Estas reservas funcionavam mais como campos de concentração, já que não restava aos nativos o arbítrio de permanecer ou não alí, e desta forma, os que dalí se evadiam, eram implacavemente caçados como prisioneiros fugitivos. 
Em meio a este turbilhão de informações estarrecedoras, somos arrebatados pelo estranho sentimento de saber como viviam nações que somente até o momento conheciamos apenas pelos nomes em breves menções nos livros de história como os Apaches, Cheyennes, Siouxs e Navarros, e por figuras históricas como: Cochise, Touro Sentado, Jerônimo e Cavalo Louco. Povos e figuras que nos foram apresentados como meros personagens coadjuvantes, quase fictícios, em uma encenação fantasiosa da saga da civilização ocidental. 

O livro quando realiza o contraste entre os hábitos dos indígenas e os do homem branco, deixa claro que não há uma sociedade tão fundamentada no respeito à natureza e à vida como a índigena. Nenhum de seus conceitos vai ficar como antes, após a leitura deste livro, pois você é apresentado a realidade como ela é, macabra e sangrenta. 
E poucos não conseguem se sensibilizar ao saber que fazem parte de uma cultura civilizatória egoísta, ignorante e gananciosa. 
Uma obra que sem sembra de dúvidas deve ser lida e relida sob as conjunturas atuais, inclusiva a transpondo para a nossa realidade nacional, que não foi diferente desta em nada, para que possamos sempre ter em mente o alto custo e os baixos escrúpulos envolvidos nos processos que nos levaram a ter a vida como conhecemos atualmente.