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terça-feira, 2 de novembro de 2010

Por que José Serra perdeu a eleição?

A campanha política para definição do novo presidente do Brasil em 2010 foi seguramente uma das piores de todos os tempos, desde que a nossa república foi instaurada. Baixaria, acusações toscas, discussões imbecis, fuga completa dos verdadeiros assuntos que interessavam a nação.
Desvio proposital da agenda política para uma agenda religiosa ou de cunho sexual, um lixo completo. Mentiras em profusão proferidas pelo candidato que estava em segundo lugar, omissões e mentiras da primeira colocada, enfim, o povo foi colocado à margem do processo.
O candidato do PSDB paulista - dono da sigla, pois somente os paulistas servem para ser ungidos a cargos importantes, essa, ao menos, é a mensagem que o eleitor inteligente compreende, afinal é a quinta eleição à Presidência que alguém de São Paulo assume o desafio, demonstrando claramente que não existem na ótica tucana paulista companheiros do partido no Brasil que possam representá-los - não fez diferente de sua concorrente. José Serra não discutiu assuntos sérios, como a dívida interna, reformas políticas, tributária, troca de programas assistencialistas por programas baseados numa economia sustentável com geração de empregos.
Ele não disse uma vez sequer que não iria recriar a CPMF, nem tão pouco prometeu diminuir a carga tributária que incide sobre a classe média. Omitiu tudo e mais um pouco. Apelou para questões religiosas, beijou imagens e ao mesmo tempo se aliou com setores nefastos da religião, virou um homem das mil e uma faces religiosas, de manhã beijava santos e à noite participava de cultos onde às imagens não são aceitas. E ainda prometeu aos evangélicos um posicionamento contra união de homossexuais, para no dia seguinte se colocar a favor deste grupo.
Prometeu aumentar os ministérios quando até o Tiririca sabe que temos ministérios inócuos demais. Não falou em redução da máquina obesa federal, não discutiu nada com a seriedade e a profundidade necessárias. Talvez por isso também tenha perdido as eleições, por omissão, por medo e por usar intolerância religiosa onde se pedia apenas ideias diferentes.
Acusou sua opositora e o presidente de corrupção em suas gestões, mas nunca provou ter agido diferente quando pôde, como prefeito e governador de São Paulo. Aliás, seu partido, em 16 anos, jamais o fez. Sete dezenas de CPIs arquivadas é recorde mundial e vai para o Guiness Book.
Serra, que não é um político simpático nem mesmo dentro de seu partido - que o digam Aécio Neves e Geraldo Alckmin -, perdeu para sua campanha, que beirou o ridículo. E mesmo por que Serra acusou os adversários de usarem programas assistencialistas de forma eleitoreira, antes dele mesmo prometer que iria ampliar e criar até um 13º para o Bolsa Família, neste momento, não dava para acreditar em mais nada. Se não discutiu com profundidade as questões cruciais, se prometeu absurdos que deveria suprimir, se faltou com a verdade, se tropeçou na missa e caiu no culto, não tinha mesmo condições de ser presidente.
"Se não discutiu com profundidade as questões cruciais, se prometeu absurdos que deveria suprimir, se faltou com a verdade, se tropeçou na missa e caiu no culto, não tinha mesmo condições de ser presidente"

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